Responsável do Hospital de Dia
HPA Magazine 20
Todas as alterações físicas, emocionais, psicossociais pelas quais o doente passa, inevitavelmente afetam sua a qualidade de vida e têm impacto na sua capacidade de lidar com todo o processo de doença e tratamento. O cabelo é, especialmente nas mulheres, associado à feminilidade, atratividade e personalidade e a sua queda pode muitas vezes levar ao desenvolvimento de uma imagem corporal negativa, decréscimo da autoestima e menos autoconfiança, podendo levar a quadros de ansiedade e depressão.
Além disso, a pessoa poderá desenvolver quadros de depressão e ansiedade, mesmo antes de experienciar alopécia, tendo em conta os padrões de beleza da sociedade em que está inserida. Atividades que antes seriam simples, como fazer desporto ao ar livre ou ir ao supermercado, tornam-se numa dificuldade, uma vez que a pessoa tem receio de ser identificada pela sua doença.
Intervenções que visem a minimização do impacto deste efeito adverso são necessárias e devem ser desenvolvidas. A crioterapia do couro cabeludo é uma dessas intervenções e é um procedimento já muito comum e parte integrante dos cuidados, em países como o Reino Unido, França, Canadá e Holanda, para prevenção e/ou redução da alopécia induzida pela quimioterapia.
Para alguns autores, o mecanismo de ação desde procedimento depende de dois processos, sendo por um lado a vasoconstrição, que diminui o fluxo sanguíneo nos folículos capilares e limita a absorção do fármaco citotóxico no local e, por outro, a diminuição do metabolismo folicular, tornando os folículos menos suscetíveis à toxicidade da quimioterapia.
A evidência científica disponível até à data mostra-nos que a eficácia da crioterapia do couro cabeludo depende de várias variáveis, nomeadamente do uso de um tamanho adequado do capacete, do fármaco citotóxico usado e das próprias caraterísticas da pessoa. A crioterapia do couro cabeludo é uma intervenção segura e tolerável. Ainda que algumas pessoas refiram dor de cabeça e sensação de frio como efeitos indesejáveis, é possível colmatar essas manifestações com medidas de conforto, como o uso de cobertor/manta, saco de água quente e toma de analgésicos.
Assim, tem-se vindo a verificar mudanças na prestação de cuidados à pessoa com doença oncológica ao longo do tempo, nomeadamente através da aceitação da crioterapia do couro cabeludo. Contudo, as mudanças na prática clínica podem ser lentas, devido à necessidade de evidências científicas precisas e consistentes. É difícil providenciar uma estimativa concreta da eficácia na preservação do cabelo para cada pessoa ou tratamento individualmente, uma vez que há um pequeno número de pessoas com o mesmo tipo de cancro e a receber exatamente o mesmo tratamento. Além disso, a maior parte dos estudos apresenta uma população heterogénea em género, idade e comorbilidades.
Apesar dos constrangimentos, os estudos são unânimes na conclusão de que os doentes que beneficiam do capacete de crioterapia preservam maior quantidade de cabelo, face àqueles que não têm essa possibilidade.
Este conhecimento permitirá aos profissionais de saúde, e especialmente aos enfermeiros na área da oncologia, derrubar mitos. Os enfermeiros estão, uma vez mais, numa posição favorável de transformar a prática clínica, afetando diretamente a experiência da pessoa com doença oncológica e promovendo acima de tudo a sua qualidade de vida. Neste sentido, e com o intuito de melhorar os cuidados prestados, a equipa de enfermagem do Hospital de Dia do HPA Gambelas tem vindo a aplicar esta intervenção de forma eficaz e com resultados positivos. Sendo que o percurso se faz sempre em direção ao bem-estar e satisfação do cliente.